Ilusões e Realidade da Carreira Tech – O que os recrutadores não te contam das Big Techs e Startups

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A Ilusão da Carreira Tech: quando o código virou propaganda

Durante muito tempo, a carreira em tecnologia foi vendida como a passagem direta para um futuro promissor. Trabalhar de qualquer lugar do mundo, salários astronômicos, startups revolucionando o planeta e programadores se tornando os novos “deuses do Vale do Silício”.
Mas o que parecia um script perfeito acabou se revelando um código cheio de bugs — e os últimos anos deixaram isso dolorosamente claro.

O mito da liberdade

A narrativa dominante diz: “Aprenda a programar e alcance a liberdade.”
Milhares de pessoas acreditaram nesse comando, ditado como um “Hello World!” em um curso de programaçao, mergulhar em um bootcamp, abandonar o emprego estável e apostaram todas as fichas em uma promessa.

Essa é a pregação dos novos COACHs e VENDEDORES DE CURSOS, o problema é que a promessa não era um algoritmo neutro — era uma campanha de marketing cuidadosamente arquitetada pelas próprias big techs. É fácil vender sonhos, dificil é entrega-los.

Empresas como Google, Meta, Netflix, Amazon e outras centenas de grandes players de tecnologia tinham um interesse claro: aumentar a base de mão de obra técnica disponível. Porém, era insustentável armazenar mão de obra qualificada, isso custa muito caro.

A solução, criar uma demanda muito maior do que a realidade, forçar o mercado provando que estavam vivendo uma nova realidade e em pouco tempo, transformar uma grande massa de pessoas dispostas a pagar o preço cobrado por eles para entrar no mercado.

Quanto mais desenvolvedores no mercado, mais rápido e barato se podia inovar, testar produtos e alimentar o ciclo da economia digital. O “aprenda a programar” nunca foi sobre libertação individual,  foi sobre escalar a produção do software global.

A real motivação das Big Techs

Entre 2010 e 2020, o crescimento das big techs foi exponencial. Para sustentar isso, elas criaram um ecossistema de sedução tecnológica: hackathons, ambientes “descolados”, benefícios ilimitados e narrativas de impacto global.  Enquanto isso, investidores despejavam bilhões em startups que precisavam de programadores para construir o próximo “unicórnio”.

Mas a matemática não fecha. Não há espaço para todos os programadores se tornarem “engenheiros de produto no Google”. A expansão de cursos, vagas júnior e promessas de carreira ilimitada foi um movimento de superoferta controlada, e, como em qualquer mercado, quando a oferta cresce mais rápido que a demanda, o valor cai.

A bolha estourou — e o código travou

O ano de 2020 marcou o início do crash silencioso da carreira tech. A pandemia acelerou contratações em massa para, logo depois, trazer a ressaca. Entre 2022 e 2024, mais de 600 mil profissionais de tecnologia foram demitidos em grandes ondas de layoffs, segundo dados do portal Layoffs.fyi 

Empresas como Meta, Google, Amazon, Microsoft e Twitter (atual X) reduziram drasticamente suas equipes, inclusive em áreas consideradas “intocáveis”, como IA e segurança. Esses cortes expuseram uma realidade brutal: a estabilidade em TI é tão ilusória quanto em qualquer outro setor. O discurso de que “programadores sempre terão emprego” colidiu com um mercado saturado, automatizado e cada vez mais exigente.

Comparando com outras profissões

Enquanto engenheiros, médicos e advogados enfrentam anos de formação e regulamentação, a área de TI se tornou um território de entrada rápida e alta expectativa. Mas a barreira baixa de entrada também significa competição global. Hoje, um desenvolvedor brasileiro disputa vaga com profissionais da Índia, do Leste Europeu e até com modelos de IA capazes de gerar código funcional em segundos.

Profissões tradicionais, por outro lado, embora menos “glamourosas”, oferecem algo que muitos devs esqueceram de buscar: previsibilidade e estrutura de carreira. Em tecnologia, a volatilidade é parte do contrato. A cada nova linguagem, framework ou modelo de IA, o profissional precisa se reinventar, e a maioria não está preparada para essa corrida infinita pelo topo.

O novo peso da cobrança

O excesso de oferta e a velocidade das mudanças criaram uma cultura de cobrança constante. Hoje, o programador precisa ser sênior em tudo: dominar back-end, front-end, cloud, IA, segurança, soft skills e ainda ser criativo e produtivo sob pressão. O mito da “carreira fácil” se transformou em um ambiente de burnout, ansiedade e insegurança.

As empresas que antes romantizavam a “liberdade do dev” agora tratam o programador como recurso substituível. E a nova fronteira da competição está sendo travada entre humanos e algoritmos, ironicamente, criados pelos próprios devs que acreditaram no sonho inicial.

Por que a ilusão ainda persiste

A resposta é simples: a indústria precisa que ela persista. Bootcamps, escolas de programação, plataformas de ensino e influenciadores vivem da crença de que programar é o novo “ouro digital”.
Mas, como em qualquer corrida do ouro, os verdadeiros lucros são dos que vendem as pás e não dos que cavam.

Enquanto isso, os profissionais que realmente prosperam são aqueles que entendem o jogo além do código, que sabem unir tecnologia, estratégia e visão de negócio. Aqueles que tratam a programação não como um fim, mas como uma ferramenta.

O próximo bug da carreira tech

Estamos diante de um refactoring forçado da indústria. A automação está otimizando tarefas antes humanas, e o mercado não absorve mais o exército de novos devs formados todos os meses.
A ilusão está sendo descompilada linha por linha, e quem não entender isso será substituído pela próxima versão estável da economia digital.

Conclusão

A carreira em tecnologia continua sendo fascinante, mas não é mais um caminho garantido para o sucesso. O programador que quiser sobreviver precisa pensar como engenheiro e agir como estrategista. O futuro da profissão não está no código que escrevemos, mas na capacidade de entender por que e para quem o escrevemos.

No fim das contas, a verdade da carreira tech nunca foi binária. Ela está nas entrelinhas, no espaço existente entre o que é pregado pelos contratantes, e a realidade que é entregue.

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