A Evolucao Das Linguagens De Programaçao – Dos Cartões Perfurados à Inteligência Artificial

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A Evolução das Linguagens de Programação — Do Silêncio Perfurado ao Código que Pensa

Você já parou para pensar no que realmente significa programar um computador?
Não é falar com palavras. É conversar com lógica. Ao escrever um código, invocamos a máquina para executar uma sequência precisa de ações, traduzindo ideias em comandos. Mas nem sempre foi assim. Antes das telas brilhantes e das interfaces gráficas, havia apenas silêncio… e o som seco dos cartões sendo perfurados.

O Tempo dos Cartões Perfurados

No início, programar era organizar pilhas de cartões, cada furo representando uma instrução. Era quase uma liturgia mecânica: o programador não conversava com a máquina, apenas oferecia-lhe um conjunto rígido de ordens. Erros custavam caro. Um dígito errado significava começar do zero.

A Linguagem Sagrada da Máquina

Na década de 1940, com a chegada da computação eletrônica, não existiam linguagens como as conhecemos. Tudo era binário, gravado diretamente nos circuitos. Programar era como dialogar com um deus antigo, no seu dialeto sagrado. Os computadores só aceitavam aquela linguagem crua, absoluta e inflexível.

Primeiros Passos para Domar o Dragão

Nos anos 1950, surge o Assembly, uma aproximação tímida com a máquina. Ainda era frio e linear, mas permitia ao programador dar ordens mais compreensíveis. Foi como aprender a falar com o dragão — embora ainda fosse preciso cuspir fogo junto com ele.

Fortran e o Salto para o Alto Nível

Então veio um feitiço chamado Fortran — a primeira linguagem de programação de alto nível. Pela primeira vez, programadores podiam escrever instruções mais próximas da lógica matemática. Era possível ver o todo, criar laços, condições e raciocínios completos. A máquina deixava de ser uma fera indomável para se tornar uma aliada obediente.

A Torre de Babel Digital

Com o avanço da computação, surgiu a “torre de Babel” das linguagens. Cada criador tentava impor sua própria visão. O LISP (1958) mostrou que era possível construir lógica pura apenas com listas e funções — minimalista e poderosa, criado para a inteligência artificial quando esta ainda era sonho.
Já o COBOL (1960) nasceu voltado para os negócios, tornando-se a espinha dorsal de bancos e governos — e permanecendo ativo até hoje nos bastidores.

C: O Aço da Programação

No início dos anos 70, surgiu o C. Preciso, elegante e mortal, foi criado para desenvolver sistemas operacionais, tornando-se o coração do UNIX e, por extensão, da internet e dos sistemas modernos. Dava ao programador poder absoluto sobre a máquina — e nenhuma rede de segurança.

A Revolução Popular do BASIC

Os anos 80 trouxeram o BASIC, uma linguagem que democratizou a programação. Antes restrito a “sacerdotes digitais”, agora qualquer pessoa — crianças, curiosos, amadores — podia conversar com a máquina. Esse foi o início de uma explosão criativa doméstica.

Objetos e Universos Digitais

No fim da década, a orientação a objetos entrou em cena. Smalltalk plantou a ideia, mas foi o C++ que floresceu. Agora, os programas não eram apenas sequências lineares, mas ecossistemas de entidades interligadas — quase orgânicos.

O Caos Criativo dos Anos 90

A internet trouxe velocidade e desordem. Java (1995) prometia “escreva uma vez, execute em qualquer lugar”. JavaScript, inicialmente tímido nos navegadores, hoje está em todo lugar. Python, Ruby e Haskell expandiram o ecossistema, cada um com suas especialidades e filosofias.

No meio desse turbilhão, o PHP surgiu quase por acidente e, com simplicidade e flexibilidade, cimentou grande parte da web moderna — invisível, mas onipresente.

O Novo Século e a Diversidade de Ferramentas

No século XXI, linguagens buscaram unir poder e segurança: Go (Google) priorizou performance, Rust prometeu segurança sem sacrificar velocidade, Kotlin modernizou o Java, Lua — nascida no Brasil — mostrou eficiência e leveza, e TypeScript trouxe disciplina ao JavaScript. Outras, como Elixir, experimentaram novas formas de expressar ideias, beirando a arte.

A Nova Pergunta: Quem Programa Quem?

Hoje, vivemos a era da inteligência artificial, da computação quântica e das máquinas que aprendem. Ferramentas como Copilot e ChatGPT permitem que descrevamos a intenção e recebamos o código pronto. A linguagem usada importa menos — o foco está no que queremos.
Mas isso traz um risco: no conforto do automático, esquecemos como tudo funciona. E é nesse esquecimento que dormem os erros mais perigosos.


A evolução das linguagens de programação é, no fundo, a história de nossa relação com o poder digital. Entre criar e controlar, entre falar e obedecer, moldamos e somos moldados pelas máquinas.

E você? Ainda fala com a máquina… ou apenas a obedece?

 

Romeu G.

Engenheiro de Software, especializado em Redes de Computadores desde 1995 sou amante de linguagens de programação, robótica e softwares embarcados.

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